terça-feira, 18 de julho de 2023

Chapter 9 - Os amigos



 Acho que não falei dos amigos de meu tio, os colegas de repartição, os economistas, os . Se  falei, desculpe o esquecimento, vale a pena recordar as figuras estranhas da época. 

  • Cine Cacique - Porto Alegre
    Nilo, sujeitinho furtivo, olhava sempre de revesgueio(1), tinha mania de falar por cima do ombro das pessoas, cabelo lambido na Glostora, era colega de serviço do Harry.,
  • Demétrio, um gozador por natureza, fazia piada de tudo, era admirador das bundas que desfilavam na rua da Praia, era professor de direito da PUC/RS.
  • Lopes, pessoa super educada, refinado destoava do grupo/. Ele era economista do estado, aposentado da Mesa de Rendas de Porto Lucena, vivia seus dias nos cafés e cinemas do centro da cidade, tinha cadeira cativa no Cine Cacique, cinéfilo por natureza, contava sempre os finais dos filmes...
  • Alaya, burocrata do DEPREC, entusiasta da ideias de Médici de que o Brasil era um "País que vai pra frente" e que "Ninguém segurava esse país"... Era direita de carteirinha, pelo menos era o que todos pensavam...
Esses  ilustres funcionários públicos faziam a roda de conversa com Harry e seu jovem e sagaz sobrinho, eu, em frente ao Café Rian. 


terça-feira, 11 de julho de 2023

Chapter 8 - O sequestro


central de tortura DOPS Porto Alegre
Lilian C, uma professora uruguaia, nascida em Blanquillo no ano de 1949, feminista e ativista de esquerda, que depois de passar pelo exílio em Milão, na Itália, deu o azar de estar em Porto Alegre em 1978 quando policiais brasileiros e militares do exército Uruguaio, a sequestraram com seus dois filhos e o amigo, Universindo Diaz.

Era o auge da Operação Condor, uma campanha promovida pela CIA de repressão politica e terror de Estado, que envolveu muitos sequestros e mortes de opositores dos regimes de direita que predominavam na América Latina na década de 70/80.

Soube depois de muitos anos que os militantes uruguaios foram ajudados por um dos frequetadores do Café Rian, o baixinho, quem poderia desconfiar que aquela figura sem expressão, barrigudinho e calvo, era um assíduo visitante do centro clandestino de tortura do Cone Sul, a casa da rua Santo Antonio, 600. Segundo consta nos registros do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) Silvério Lobo, o Baixinho, era ex agente do "Dopinho", o famoso duas caras.

Pois os comentários no "Café" iam além das simples conjecturas, apontavam para Baixinho como o reponsável pelo emprestimo do apartamento 101 da rua Botafogo, no bairro Menino Deus, á Lilian e Universindo. Até hoje  as dúvidas permanecem.


Dizem que a casa da rua Santo Antonio parou de funcionar depois que o corpo do ex-sargento militar Manoel Raimundo Soares foi encontrado, em setembro de 1966. Ele era contrário ao golpe militar, e foi barbaramente torturado no casarão por 28 militares e agentes da segurança, durante 152 dias, a mando do major Luiz Carlos Menna Barreto. O corpo foi encontrado nas águas do rio Guaiba com evidências  da tortura e as mãos amarradas... Mas este era apenas mais um, entre centenas de boatos que circulavam pelos balcões do Café Rian... Nosso amigo Nilo talvez tivesse razão, operação OBAN efetivamente existia...